“Na raça”, o livro sobre a trajetória da XP

Por Fabio Silvestre Cardoso*, especial p...

Por Fabio Silvestre Cardoso*, especial para a Microexato

Existe certa aura em torno dos realizadores. É como se, tocados pelas musas, esses indivíduos fossem capazes tanto de conceber grandes feitos, como os maiores artistas de todos os tempos, como também de ter visão que vai além do alcance comum, de modo que parecem talhados para o sucesso, não importa a dificuldade que enfrentem.

Em linhas gerais, o que se lê no parágrafo acima tem muito a ver com as histórias que os homens, hoje em dia, contam a respeito dos empreendedores. O leitor que tiver à sua frente um exemplar de um livro sobre um sujeito assim, ou, ainda, a respeito de um ícone do Vale do Silício perceberá, certamente, alto grau de romantização no que concerne essas trajetórias. Para colocar de forma resumida: eles não apenas são tocados pelas musas, mas precisam enfrentar a fúria dos inimigos, a rigidez dos críticos e até mesmo a condescendência dos amigos.

De certa forma, Na raça, livro escrito pela jornalista Maria Luiza Filgueiras a propósito da saga da XP, tomando como referência a jornada de um de seus fundadores, Guilherme Benchimol, não é diferente. Mas aqui, de fato, temos um feito interessante. Benchimol é um herói improvável. Ele havia sido dispensado da empresa onde trabalhava, lá no início dos anos 2000, e decidiu, como sugere o título do livro de Filgueiras, dar as caras num negócio que não permitia intrusos.

Ainda assim, ele foi, viu e venceu.

É claro que as coisas não foram erguidas da noite para o dia. Nem mesmo Roma foi. Então, antes de tomar de assalto a mentalidade de quem deseja abrir um novo negócio no mercado financeiro, a empresa enfrentou uma série de adversidades, sendo a principal delas certa desconfiança que os brasileiros tinham – e, por que não dizer?, ainda têm – em relação aos investimentos na Bolsa. Sim, demoraria muito tempo para que o apresentador de TV Luciano Huck topasse mostrar que a XP era o lugar dos investimentos. E, se hoje, parece que todos querem seguir a receita de Benchimol, é certo anotar que o passado teve seus muitos obstáculos.

Nesse sentido, uma das passagens mais interessantes do livro de Filgueiras dá conta do quão comum foi essa jornada: no início, a companhia, que não tinha um fluxo de caixa tão parrudo assim, fazia uso de computadores usados, o que mostra o quanto o drive da companhia era guiado não pela aparência ou pelo desejo de status, mas, sim, pela vontade de entregar algo que não havia sido realizado ainda. Vale a pena, aqui, retomar o famoso comentário de Steve Jobs: “as pessoas não sabem o que querem até mostrarmos a elas”.

Maria Luiza Filgueiras

Em outro momento de “Na raça”, Maria Luiza Filgueiras conta do solitário momento de hesitação de Benchimol quando do estabelecimento da sociedade com o Itaú. Conforme escreve Filgueiras: “os méritos do negócio pareciam claríssimos. Ter o maior banco privado do Brasil como sócio representava, para a XP, um definitivo selo de qualidade”. Ainda assim, revela a autora, Benchimol não sabia se aquele era o caminho certo. Um dos fatores para essa dúvida repousava na própria trajetória da XP: os bancos eram apresentados como as instituições que cuidavam mal do dinheiro daqueles que conseguem guardar algum recurso no país. Então, sim, ao estabelecer essa associação, a empresa poderia perder um traço singular das companhias hoje em dia: sua identidade. Quando decidiu pelo desfecho que hoje é conhecido, Benchimol parecia mais à vontade com o destino que traçou para sua própria companhia.

Se, num primeiro momento, tem-se a impressão de que “Na raça” retoma os mesmos vícios e virtudes das sagas heróicas dos empreendedores aspiracionais, à medida que se lê o livro, entende-se por que Guilherme Benchimol tem predileção uma frase aparentemente fatalista: “é matar ou morrer”. Num momento em que o mundo parece (e é) tão competitivo, é fundamental ter em mente por que é que se decide seguir determinado caminho.

*Fabio Silvestre Cardoso é jornalista, doutor em Integração da América Latina pela USP e mestre em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi. É autor do livro Capanema, lançado pela Editora Record. Linkedin

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