Por Fabio Silvestre Cardoso*, especial para a MextMag
Nas mídias sociais, as resoluções de ano novo já são motivos de piada. O motivo é simples: de um lado, há quem faça pouco caso de quem, ano a ano, se organiza no sentido de estabelecer metas para os 12 meses que se aproximam (justamente porque tais objetivos são inalcançáveis); de outro, boa parte dessas resoluções envolve autoestima relacionada à saúde e ao emagrecimento – e é curioso observar que muitas dessas promessas são feitas entre as festas de fim de ano, quando a quantidade de comida ingerida excede o recomendado pelos nutricionistas.
Então, o que fazer? Abandonar as resoluções? Desistir de planejar o ano? Afundar no sofá em mais uma série do Netlfix?
Ninguém precisa reagir de maneira tão drástica. Até mesmo porque existem pesquisas que sustentam que o planejamento a longo prazo pode muito em seus efeitos – e que, nesse sentido, até a atividade física, feita de forma regular e sem radicalismos, faz toda a diferença.
No que concerne aos cuidados com o corpo, por exemplo, um estudo publicado pela “Circulation”, periódico da Associação Americana do Coração, apontou que, entre 45 e 64 anos de idade, pessoas que praticam atividade física (sob supervisão) apresentaram melhor condicionamento quando comparadas àquelas que não mantêm atividade com a mesma regularidade. Mais do que garantia de credibilidade, a pesquisa aqui mostra a eficácia dessa prática quando assumida como método.
Tendo em vista esse contexto, é possível, sim, estabelecer conexão para com o planejamento de longo prazo. Não chama lá muita a atenção o fato de que aqueles que alcançam seus objetivos muitas vezes compartilham suas trajetórias como espécie de receita – na verdade, o que surpreende é o fato de alguns chegarem lá sem qualquer estratégia. Seja como for, ter um plano é importante até mesmo para quem gosta de curtir a jornada, repetindo uma espécie de mantra da segunda década do século XXI.
Em um estudo publicado pela “Revista de Administração do Mackenzie”, duas pesquisadoras anotaram a importância da orientação para o alcance de metas, contemplando, também, o fator da realização profissional. E é fundamental destacar aqui o que as autoras do trabalho definem como realização profissional: “o conceito refere-se à percepção do indivíduo que alcançou suas metas de carreira ou de que se está no caminho para alcança-las”. Num momento tão flexível como o atual, talvez seja ambicioso demais estabelecer que o sucesso representa somente um objetivo. Ainda assim, estar em linha com o que se tinha planejado não poderia ser mais preciso como definição. Ou, como diria a canção popular, quem poderia pedir algo mais do que isso?
Afinal, se parece tão simples manter atividade física e dar consecução dos objetivos traçados no início, por que é que tantos seguem tão frustrados há tanto tempo, acusando a ansiedade como um dos males definitivos dos tempos que correm?
Uma resposta possível, sem querer aqui fechar a questão, envolve, sim, as mídias sociais, mecanismo capaz não apenas de mudar o comportamento das pessoas, mas, essencialmente, a percepção de que nós temos conosco mesmo. Nesse espelho distorcido pela imagem do outro, somos massacrados por uma comparação injusta e por um ideal irrealizável, porque não está em conformidade com o que somos e com a nossa capacidade de reinvenção. Para compreender o impacto disso, vale a pena conferir o trabalho de Sherry Turkle, autora do até hoje indispensável Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other (numa tradução livre, “Sozinho e junto: por que esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros”).
A propósito das descobertas promovidas pelas novas tecnologias, parece que as palavras do escritor Rudyard Kipling jamais foram tão pertinentes e indicadas aos dias que correm. Algumas estrofes do poema “Se” são fundamentais:
Se és capaz de arriscar numa parada/ tudo quanto ganhaste em toda a tua vida. E perder, e ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida. De forçar coração, nervos, músculo, tudo, a dar seja o que for que neles ainda existe/ E a persistir assim quando exausto, contudo/ resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste! (…) Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo”
*Fabio Silvestre Cardoso é jornalista, doutor em Integração da América Latina pela USP e mestre em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi. É autor do livro Capanema, lançado pela Editora Record. Linkedin.
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