Em tempos onde a responsabilidade em relação ao meio-ambiente é uma das principais metas da sociedade, compreender a origem da pegada de carbono é essencial para reduzir a emissão de agentes poluentes e ajudar a preservar a natureza.
Para compreender esse conceito, é necessário saber que a ação humana influencia nos ciclos naturais da Terra por meio de muitos fatores. Sendo assim, a pegada de carbono é um índice que mede a emissão de gases poluentes, conhecidos como “gases-estufa”, gases de efeito-estufa, ou GEE. Todos os gases poluentes são convertidos em “carbono equivalente”, independentemente do tipo do gás (os GEE mais presentes na atmosfera são o vapor d’água, dióxido de carbono – CO₂, metano – CH₄, óxido nitroso – N₂O e o hexafluoreto de enxofre – SF6), para a criação do índice. Muitos fatores influenciam na produção dos agentes poluentes, destes o principal sendo o dióxido de carbono (CO₂), e os exemplos mais comuns de emissão desse gás são a queima de combustíveis fósseis (como o petróleo), a pecuária e as queimadas.
O termo “pegada de carbono” foi criado para demonstrar essas emissões de carbono equivalente na atmosfera terrestre. Apesar de normalmente associado às indústrias e ao agronegócio, ele pode ser aplicado em relação a todas as fontes emissoras, inclusive uma só pessoa – sim, você tem a sua pegada de carbono também!
O conceito, portanto, serve para compreendermos os impactos da ação humana, especificamente dos agentes poluentes, sobre a Terra. Em outras palavras, através do índice de pegada de carbono, entendemos quais os setores mais delicados no tangente à emissão de gases de efeito-estufa, e como estamos influenciando as mudanças climáticas e o aquecimento global.
Quando desejamos calcular o efeito de um gás específico na atmosfera, usamos o índice “Potencial de Aquecimento Global”, também chamado PAG (ou “Global Warming Potential”, GWP, em inglês). Esse índice faz uma razão entre o forçamento radioativo na atmosfera entre 1 kg do gás que se deseja calcular com 1 kg de CO₂ em um espaço de tempo pré-definido, normalmente, 100 anos (20 e 500 anos também já foram utilizados). Por definição, o CO₂ tem o PAG igual a 1, uma vez que é o gás usado como referência para a comparação. Assim é calculado o carbono equivalente, para então conseguirmos a pegada de carbono. Na prática, os dois termos representam a mesma coisa: quanta influência determinada emissão poluente exerce na atmosfera.
Há três fatores importantes para o cálculo: a longevidade do gás de efeito-estufa na atmosfera, a absorção de radiação infravermelha feita por esses gases, e em quais comprimentos de onda esse gás faz absorção de radiação.
Os gases de efeito-estufa são diversos, mas, conforme mencionado, os mais presentes são o vapor d’água, óxido nitroso, dióxido de carbono e metano. O dióxido de carbono (1 PAG) fica na atmosfera por muito tempo: no mínimo cem anos. Além disso, ele é o responsável por cerca de 60% do efeito-estufa. As emissões de CO₂ – que superam o que a natureza consegue re-absorver – criam concentrações desse gás na atmosfera, e o mesmo acontece com os outros GEE.
Essas concentrações de gases de efeito estufa provocam alterações na recepção dos raios solares, mudando assim as relações de transferência de energia entre a atmosfera e a Terra. O forçamento radioativo é uma das formas de medir esses desequilíbrios energéticos, que podem causar danos irreversíveis.
As transformações atmosféricas variam de espelhamento dos raios solares – caso dos aerossóis, micro-partículas ou gotículas – até aumento da absorção de energia, o que efetivamente causa o aquecimento global. As variações (aumentos abruptos e descontrolados) de emissão dos gases de efeito-estufa causadas por seres humanos são a principal causa do desequilíbrio.
Apesar de nomes similares, são índices diferentes. Cunhada por Wackernagel e Rees nos anos 70, a pegada ecológica monitora a demanda do ser humano pela biosfera, e compara essa demanda com a capacidade da Terra de se regenerar (uma vez que o CO₂ é parcialmente absorvido por florestas e oceanos).
Hoje, a pegada de carbono é responsável por mais de 50% da pegada ecológica, número expressivamente mais alto do que quando o termo foi cunhado. Isso significa que demandamos muito mais do planeta do que o fazíamos há cinquenta anos – e como os recursos não são infinitos, essa relação é alarmante.
O crescimento impressionante da emissão de GEEs nos últimos 50 anos evoca a discussão de como reduzir esses impactos negativos causados pela emissão de poluentes. Uma das principais discussões é referente à sobrecarga da Terra, ou seja, quando nossas atividades forem além da capacidade natural de regeneração do planeta.
Para reduzirmos as pegadas de carbono, diversos protocolos e tratados internacionais (como o de Montreal, que baniu os clorofluorcarbonetos – CFCs) estão sendo constantemente discutidos e implantados. A adequação à diminuição da pegada de carbono é um assunto de extrema necessidade – tanto para melhorar a qualidade de vida na Terra quanto para evitar a irreversibilidade dos danos ao máximo possível.
As ações mais conhecidas referentes aos países, eventos e empresas são o ISO 14001:2015, 14064 e 14067, o GHG Protocol e o PAS 2050.
O PAS (“Public Avaliable Specification”, ou Especificação Disponível Publicamente) 2050 é um método que determina a quantificação da emissão dos gases nos ciclos-de-vida dos produtos. Dessa forma, as empresas podem rotular os produtos e informar os consumidores com transparência a respeito da emissão dos GEEs para cada um dos itens produzidos.
O GHG Protocol é uma espécie de banco de dados ou inventário em relação aos gases de efeito-estufa, compatível com as normativas dos ISO e com os estudos de quantificação do IPCC, sigla do “Intergovernmental Panel on Climate Change” (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). Sua principal função é analisar a emissão dos GEEs em cadeias produtivas.
As ferramentas mais conhecidas para adequação dos governos e indústrias a um patamar sustentável são os ISO 14064 e 14067. O primeiro fornece ferramentas e diretrizes para reduzir a emissão de gases de efeito-estufa em busca de um ambiente mais sustentável. O segundo normaliza a rotulação dos produtos a partir da quantificação de suas respectivas pegadas de carbono, definindo limites de equilíbrio e, também, promovendo a comunicação transparente.
A intenção do ISO 14001 como um todo é prover “um Sistema de Gestão Ambiental eficiente, para rapidamente atender as responsabilidades ambientais, de forma que contribua com o pilar da sustentabilidade”.
As normas são extensas, e conseguir o selo ISO do meio ambiente é um passo importantíssimo na busca por redução dos gases de efeito-estufa. Para conseguir a certificação, a empresa deve comprovar que realizou todos os itens descritos nas normas, com padrão internacional.
Você pode conferir o ISO 14067 em português aqui ou no site oficial, em inglês. Já o ISO 14001 pode ser lido aqui.
Individualmente, existem diversas ações que promovem a sustentabilidade e podem fazer com que a sua pegada de carbono seja reduzida (e você pode calcular como ela está hoje nesse site). Dentre elas, as mais comumente mencionadas são:
Já para empresas e governos, embora o incentivo a esses passos também seja crítico, é necessário tomar atitudes de maior porte. A responsabilidade ambiental é ainda mais profunda do que a redução da emissão de poluentes: lida com criar cadeias de produção mais ecológicas e com ações afirmativas para minimizar o impacto dessas cadeias de produção no meio ambiente. Ações de reflorestamento, consumo consciente de água e energia (inclusive com manutenção constante em máquinas e lâmpadas), filtros de emissão de gases, uso de energias renováveis (como a energia solar), descarte correto de materiais, possuir equipamentos que permitem controle amplo de eficiência energética, e medidas afins, são passos cruciais rumo ao desenvolvimento sustentável e ao carbono zero.
Para conseguir certificação no tangente das emissões de carbono, empresas precisam declarar a quantidade de pegada de carbono para seus produtos e cadeias produtivas. Uma forma de fazer isso é através do site da “Carbon Footprint Standard” – Padrão da Pegada de Carbono (em tradução livre), que possui três níveis de selos: reconhecido, reduzido e carbono zero. Para ser qualificada em qualquer das categorias, as empresas devem seguir os padrões reconhecidos internacionalmente, tais como os já citados.
Com a discussão sobre o aquecimento global e a sustentabilidade se expandindo e ganhando evidência, reduzir a pegada de carbono é fundamental para empresas conquistarem clientes preocupados com a condição de responsabilidade ambiental. Práticas enganosas ou fraudulentas neste sentido têm se mostrado infrutíferas.
Uma pesquisa realizada pela agência norte-americana Union + Webster e divulgada pelo Sistema FIEP indica que quase 90% dos brasileiros preferem consumir de empresas com ações efetivas em prol da sustentabilidade. Isso significa que existem vantagens competitivas para quem está preocupado com o meio ambiente – e se ajudar a reduzir os danos ao planeta não for motivo suficiente, não adentrar às normas internacionais pode significar prejuízo e perda de investidores.
A pegada de carbono é um dos mais importantes índices rumo ao desenvolvimento sustentável, e adequar a empresa nessa direção afeta positivamente todo o ecossistema empresarial – desde a manutenção de clientes e investidores até a responsabilidade individual e socioecológica. Para comprovar essa adequação, é preciso seguir um estrito compilado de normas aceitas internacionalmente.
Os recursos naturais são escassos e, logicamente, essenciais à manutenção da vida na Terra, e o crescimento desenfreado dos índices de pegada de carbono mantém em xeque as condições para o desenvolvimento. As indústrias devem reverter seus processos insustentáveis através de práticas afirmativas, os governos devem monitorar essas práticas e se atentar às infrações, e cada indivíduo pode reduzir o dano que causa com medidas simples. Além de tudo, essas medidas impactam diretamente na qualidade de vida de cada um de nós.
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